Jorge Amado e a valorização da cultura popular
(Parte do texto "Diálogos", escrito por Norma Seltzer Goldstein para o "Caderno de Leituras - A literatura de Jorge Amado", destinado a professores)
Outra forma de intertextualidade cara a Jorge Amado é a referência à literatura de cordel. Mark J. Curran considera Tereza Batista cansada de guerra um romance de “cordel em prosa”. Em Tenda dos Milagres, um dos cenários principais é a tipografa do Pelourinho, onde se imprimem folhetos de cordel e se reúnem seus criadores e apreciadores. O diálogo com o cordel transparece em longas epígrafes e subtítulos, como o que anuncia o segundo episódio de Os velhos marinheiros:
Fiel e completa reprodução da narrativa de Chico Pacheco, apresentando substancioso quadro dos costumes e da vida da cidade de Salvador nos começos do século, com ilustres fguras do governo e ricos comerciantes, enjoadas donzelas e excelentes raparigas
Também em Gabriela, cravo e canela, o cordel ecoa no ritmo de passagens em prosa poética:
A vida era boa, bastava viver. Quentar-se ao sol, tomar banho frio. Mastigar as goiabas, comer manga espada, pimenta morder. Nas ruas andar, cantigas cantar, com um moço dormir. Com outro moço sonhar.
Note-se o ritmo dos versos de cinco sílabas:
E também as rimas:
Por vezes, Jorge Amado insere versos nas narrativas, como a “Cantiga para ninar Malvina”, em Gabriela, cravo e canela:
Os versos de sete sílabas, ou redondilhas maiores, são freqüentes em nossa poesia popular. Aqui, apóiam-se na repetição e no paralelismo, criando o efeito melódico de acalanto, anunciado no título.
Há diálogos e mais diálogos a serem descobertos pelo leitor de Jorge Amado. Basta ler sua obra e buscar pistas.
Outra forma de intertextualidade cara a Jorge Amado é a referência à literatura de cordel. Mark J. Curran considera Tereza Batista cansada de guerra um romance de “cordel em prosa”. Em Tenda dos Milagres, um dos cenários principais é a tipografa do Pelourinho, onde se imprimem folhetos de cordel e se reúnem seus criadores e apreciadores. O diálogo com o cordel transparece em longas epígrafes e subtítulos, como o que anuncia o segundo episódio de Os velhos marinheiros:
Fiel e completa reprodução da narrativa de Chico Pacheco, apresentando substancioso quadro dos costumes e da vida da cidade de Salvador nos começos do século, com ilustres fguras do governo e ricos comerciantes, enjoadas donzelas e excelentes raparigas
Também em Gabriela, cravo e canela, o cordel ecoa no ritmo de passagens em prosa poética:
A vida era boa, bastava viver. Quentar-se ao sol, tomar banho frio. Mastigar as goiabas, comer manga espada, pimenta morder. Nas ruas andar, cantigas cantar, com um moço dormir. Com outro moço sonhar.
Note-se o ritmo dos versos de cinco sílabas:
A vi da e ra bo a
Bas ta va vi ver
Quen tar se ao sol
To mar ba nho fri o
E também as rimas:
nas ruas andar
cantigas cantar
com um moço dormir
com outro moço sonhar
Por vezes, Jorge Amado insere versos nas narrativas, como a “Cantiga para ninar Malvina”, em Gabriela, cravo e canela:
Dorme, menina dormida
teu lindo sonho a sonhar.
No teu leito adormecida
partirás a navegar.
[…]
Meu marido, meu senhor
na minha vida a mandar.
A mandar na minha roupa
no meu perfume a mandar.
A mandar no meu desejo
no meu dormir a mandar.
A mandar nesse meu corpo
nessa minh’alma a mandar.
Direito meu a chorar.
Direito dele a matar.
Os versos de sete sílabas, ou redondilhas maiores, são freqüentes em nossa poesia popular. Aqui, apóiam-se na repetição e no paralelismo, criando o efeito melódico de acalanto, anunciado no título.
Há diálogos e mais diálogos a serem descobertos pelo leitor de Jorge Amado. Basta ler sua obra e buscar pistas.
Xilogravura de Calasans Neto |
Sugestão de leitura:
CURRAN, Mark J. Jorge Amado e a literatura de cordel. Salvador, Fundação Cultural do Estado da
Bahia/Fundação Casa de Rui Barbosa, 1981.
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