Entrevista com o poeta Chico Pedrosa


“O matuto escrevia uma carta para mandar para família, ai depois botava dentro de um envelope. Ele pensa: vou escrever outra para botar dentro de um envelope, se não chegar uma, a outra chega”. Foi com esse causo espirituoso que o poeta e declamador, Chico Pedrosa, de 78 anos, iniciou a entrevista concedida ao portal G1.

Chico Pedrosa tem mais sete CDs lançados e o oitavo estará pronto em agosto de 2014, além de cinco livros. Hoje ele mora em Olinda-PE e se define como peregrino, um pesquisador de sonhos. Neste mês de junho, o poeta está no ar na Globo Nordeste no Programa “Causos e Cantos”.

G1: Como começou sua relação com a escrita de cordel e a declamação?
Chico Pedrosa: Eu nem sei explicar, descrever sim. Começou da influência do meu pai, também poeta e cantador, Avelino Pedro Galvão, de Mamanguape, Paraíba, América do Sul, Planeta terra e o resto não digo mais. E como filho de declamador, eu sempre gostei de ouvir declamadores. Também tive influência do meu compadre, Zé Laurentino de Campina Grande, Paraíba.

G1: Até o reconhecimento atual como referência na escrita de cordel e declamação, como foi sua trajetória profissional?
Chico Pedrosa: Saí da Paraíba em 1967, e fui para Feira de Santana-BA aos 31 anos. Na Bahia, eu passei 18 anos, sem ouvir nenhum cantador. Eu que nasci e me criei no meio deles, senti uma falta enorme. Lá eu trabalhava em loja e isso não me permitia que eu saísse da cidade, era trabalhava diariamente mais de oito horas. Mas, passados 18 anos, eu estive na Paraíba e cheguei em Guanabira na casa de meu compadre, ele me mostrou um LP de uma dupla de cantadores, Sebastião da Silva e Moacir Laurentino. Eu não tinha visto até então e me apaixonei. Quando eu retornei à Feira de Santana, levei uma dupla de cantadores: Ivanvildo Vila Nova e Severino Feitosa e eles levaram também Zé Laurentino. Eu fiquei impressionado e comecei a voltar a fazer os meus trabalhos. As pessoas passaram a admirar e gostar do meu trabalho. A partir daí, eu não parei mais, não parei, nem paro, só quando Deus me chamar para outra.

G1: Onde trabalha atualmente e como é sua vida hoje com seus 78 anos?
Chico Pedrosa: Depois que eu me aposentei, fui morar em Recife-PE. Quando cheguei lá encontrei um oásis e um leque abriu, de uma maneira tal, que não fechou mais nunca. Hoje eu moro em Olinda-PE, na beira do mar. Tenho filhos, netos e bisnetos que continuam a morar em Feira de Santana-BA. Ninguém vive hoje de declamação, mas pode ter certeza que Chico Pedrosa, vive. Eu vivo do meu trabalho, andando para cima e pra baixo feito a besta do pãozeiro. Eu sou um peregrino, um pesquisador de sonhos.

G1: Quantos trabalhos seus já foram publicados?
Chico Pedrosa: São sete CD's e o oitavo vem agora em agosto de 2014, ainda está sem título. Além de cinco livros publicados, todos na linha cordel, agora todos com poemas que parecem com crônicas que algumas viraram peças teatrais em Portugal e na Espanha e no Brasil, em diversos lugares. Entre os livros estão: Pilão de Pedra, 1988; Pilão de Pedra II, 1996;Raízes da Terra, 2004;O galo e a raposa, 2004; Antologia poética – Sertão Caboclo, 2007. Já Os CDs são: Poesia Popular Nordestina, 1990; Meu Sertão, 1999; Sertão Caboclo,2001; Paisagem Sertaneja, 2003; No meu Sertão é assim, 2005; Raízes do chão caboclo, 2007.

G1: Como foi escrever os primeiros cordéis e a aceitação?
Chico Pedrosa: Meu Primeiro cordel publiquei em 1954 e eu tinha 18 anos. Ele chamava 'Os Sofrimentos dos Nortistas no Triângulo Mineiro'. Naquela época ninguém falava em nordestinos, era nortistas. Desde 1952, eu já vendia nas feiras os folhetos de cordel de outros autores. Mas desde aquela época eu já escrevia. Quando me mudei para Feira de Santana em 1967 dei a parada de 18 anos. Ficava doente, mas eu nunca parava de escrever não.

G1: O que representa o Sertão para o senhor que é fruto dessa terra e que a escreve sobre vários elementos?
Chico Pedrosa: Significa tudo com 'T' maiúsculo, porque eu nasci no brejo, em Guarabira, região brejeira da Paraíba. Sertão é tudo, tanto que os meus trabalhos são feitos em cima das raízes sertanejas. Eu gosto e tenho livros inspirados na região como o Sertão Caboclo, Paisagem Sertaneja, Raízes do Chão Caboclo. E o meu trabalho mais recente que é Paisagem do Meu Sertão.

G1: Para declamar é preciso ter boa memória, como faz para ter viva as lembranças?
Chico Pedrosa: Se não prestar, não chega nem perto, É Deus que ajuda a gente. O meu exercício é fazer palavras cruzadas. Antes de dormir sempre eu faço, chega o sono, a caneta cai da mão e depois só vejo quando acordo.

G1: Hoje, Chico Pedrosa é uma referência para as novas gerações, o que acha disso?
Chico Pedrosa: Existe uma camada que quer fazer o que eu faço, mas não tem a técnica, não tem o domínio e não tem a arte de agradar o público. É seco, é rude e não aceita conselhos. Eu acho bom quando eles aceitam os conselhos da gente, a voz da experiência.

G1: Como é se apresentar nos grandes centros urbanos do Brasil?
Chico Pedrosa: Eu sempre sou bem recebido. Em São Paulo existem mais nordestinos do que quase em todo canto. E através daqueles que lá estão, levam outros. Tem pessoas da região que nunca conheceram meu trabalho e chegam pra mim: Chico, eu nunca tinha escutado você, mas agora eu sou seu fã e isso não só no Sudeste, mas em todo canto existem sempre aqueles que se apaixonam. Isso para nós é uma glória e é bom demais. Quanto à receptividade é saber se apresentar, se dirigir ao público, conversar com eles e interagir. Eu gosto muito de ver o público quando entro no palco para ver o semblante das pessoas, gosto de ter um retorno.

G1: O cordel não era tão divulgado. Hoje essa arte que surgiu no Nordeste e já é conhecido em todo Brasil?
Chico Pedrosa: O cordel tem raízes fincadas em Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. São os locais que tem mais cordelistas como Clebson Viana, Arievaldo Viana, J. Borges em Bezerros-PE e Manoel Monteiro, que levam isso para escolas e as instituições de ensino superior gostam do nosso trabalho. Faço palestras nas faculdades, palestras e cordel e é uma coisa admirável. O Sesc também promove oficinas de cordel e eu trabalho muito assim.

(Por Juliane Peixinho, do G1 Petrolina; foto de Juliane Peixinho)

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