CORDEL: Dominguinhos encontra Gonzagão

Caricaturas de Nei Lima (enviadas pelo autor)

O poeta Stélio Torquato Lima nos envia em primeira mão seu novo folheto intitulado O ENCONTRO DE GONZAGÃO E DOMINGUINHOS NO CÉU, um trabalho muito bom, como tudo o que ele tem produzido ultimamente. Não vamos publicá-lo na íntegra para não prejudicar a venda do folheto. Seguem alguns trechos do referido cordel:

Enquanto o Nordeste chora
A morte de Dominguinhos,
No céu há uma grande festa,
Pois um coro de anjinhos
Dá ao mestre as boas-vindas,
Em meio a canções tão lindas,
Qual som de mil passarinhos.

Zé Domingos de Morais,
O arretado sanfoneiro,
Nascido em 41,
A 12 de fevereiro,
Agradeceu com emoção
Aquela recepção,
Que o comoveu por inteiro.

O filho de Garanhuns
Viu passar logo em sequência
Um filme em sua mente
De toda a existência.
Viu seu pai, mestre Chicão,
Afinando acordeão
Com bastante competência.

Infância humilde, mas boa,
Vivida com os dois manos.
A sanfona de oito baixos
Que ele ganhou aos seis anos.
O estudo do instrumento,
Já demonstrando talento
Junto aos pernambucanos.

Deslizando os seus dedos
Pela extensão do teclado,
O menino demonstrava
Que estava vocacionado
Para a vida estradeira,
E ia, de feira em feira,
A lutar por um trocado.

Junto com os dois irmãos,
Logo um grupo formou.
Foi assim que “Os três pinguins”,
Como o trio se chamou,
Conseguiu algum dinheiro,
Um reforço financeiro
Que aos seus pais alegrou.

Dominguinhos, com esforço
E com grande disciplina,
Foi dominando o instrumento,
A adorável concertina.
E, dominando a sanfona,
Tirou os seus pais da lona,
Mudando deles a sina.

Foi tocando em um hotel
Que ele conheceu Gonzaga,
Um encontro decisivo,
Que traçaria a saga
Do talentoso guri.
Que tivera, até ali,
Uma existência aziaga

Um funcionário do hotel
Mandou que ele entrasse
E pediu que o garotinho
Para um hóspede tocasse.
Dominguinhos não sabia
Que Gonzaga é que queria
Que ele o talento mostrasse.

(...)
Nessa viagem no tempo
Dominguinhos se entretém.
De repente, ouviu uma voz
Que ele conhecia bem:
“Meu Jesus de Nazaré!
Aquele cabra não é
Meu conterrâneo Neném?”

Ouvindo o apelido
Que vinha lá da infância,
Dominguinhos se virou,
Vendo, a pequena distância
Daquela celeste plaga,
A figura de Gonzaga,
Que ria em abundância.

Sem qualquer tempo a perder,
Dominguinhos caminhou
Na direção de seu mestre,
A quem logo abraçou.
Ao reencontro dos dois,
Uma festa, logo depois,
Lá no céu se iniciou.

Assim, naquelas paragens
De paz e grande sossego,
Logo uma melodia linda,
De agradar troiano ou grego,
Fez Domingos sorrir,
Pois se estava a ouvir
“De volta pro aconchego”.

(...)
Dessa forma é que ocorreu,
Sem drama nem escarcéu,
O encontro de Gonzagão
E Dominguinhos no céu.
Digo a quem não crê em mim:
“Eu só sei que foi assim”,
E saio, rindo ao léu.

(Do blog Acorda Cordel)

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