Viva Luiz: o Brasil conhece um mestre
1961 - Morre Santana, mãe de Luiz Gonzaga, de doença de Chagas. O compositor Rosil Cavalcanti estreia nesse ano com a marchinha Faz Força Zé, em disco 78 rpm.
1962 – O disco Ô Veio Macho desse ano sai com seis composições inéditas do novo parceiro de Luiz Gonzaga, o paraibano José Marcolino. É o maior feito desse gênero em termos de lançamento de obras de outros parceiros. O compositor João do Vale estreia nesse ano obra luiz-gonzaguiana. Morre o compositor Zedantas, aos 42 anos de idade.
1963 – Músicas destaques do disco Pisa no Pilão (A Festa do Milho), Pronde tu vai, Baião? e a música desabafo de Luiz Gonzaga, o clássico A Morte do Vaqueiro, em homenagem a Raimundo Jacó, o vaqueiro primo do Rei do Baião, assassinado.
1964 – No disco Sanfona do Povo, desse ano, começa a se popularizar o caso do roubo da sanfona de Luiz Gonzaga. Ele lança, também nesse ano, o disco da toada A Triste Partida, do poeta cearense Patativa do Assaré.
1965 – Lança o disco Quadrilhas e Marchinhas Juninas, com lado instrumental do repertório junino-joanino luiz-gonzaguiano. No outro lado do disco se destacam polquinhas de José Marcolino. O cantor e compositor paraibano Geraldo Vandré grava a Asa Branca, a primeira manifestação de reverência de artista jovem da MPB, dos anos 60 do século XX, à obra imortal do Rei do Baião.
1966 – Luiz Gonzaga amargando desprestígio da sua gravadora, ausente da mídia de televisão, com as vendas de disco em baixa, vive a sua pior crise da carreira artística após o reinado do baião. Nesse ano, ele não grava disco nenhum. Mas publica a sua biografia O Sanfoneiro do Riacho da Brígida – Vida e Andanças de Luiz Gonzaga – o Rei do Baião, de autoria do paraibano Sinval Sá.
1967 - Os líderes do movimento Tropicalismo, os baianos Caetano Veloso e Gilberto Gil, expoentes da nova geração da Música Popular Brasileira dessa década, dizem na imprensa da influência de Luiz Gonzaga na formação deles e da MPB em geral. O jornalista Carlos Imperial espalha o boato da gravação Asa Branca, pelos Beatles. Luiz Gonzaga, de novo notícia, é convidado para programas, inclusive de televisão, e ganha dinheiro, numa fase financeira dele bastante crítica. Lança o disco Óia Eu Aqui de Novo, em tom de volta por cima. É o ano de O Xote dos Cabeludos e do disco O Sanfoneiro do Povo de Deus, o de maior conteúdo religioso popular da sua carreira.
Gil, Dominguinhos e o seu Lula, em 1980 |
Já que entramos nesse assunto...
Luiz Gonzaga e a Ditadura (publicado no jornal Folha Solta de dezembro de 2011)
Março de 1972, ditadura militar no auge, Luiz Gonzaga se apresenta no Teatro Tereza Raquel no Rio de Janeiro. Na plateia, políticos, como o deputado cearense Armando Falcão, intelectuais e, em grande parte, jovens estudantes opositores ao regime. Luiz não tinha sequer ideia do papel desempenhado pelo dois únicos partidos políticos existentes, o MDB e a Arena. Seu interesse pela política era zero, porém seu discurso parecia bastante politizado.
Durante a apresentação, se colocou numa situação constrangedora ao brincar com o amigo, então deputado, Armando Falcão, um "general civil". Contou quando foi convidado para tocar numa república de estudantes cearenses, no Rio: "Me apresentaram o presidente da república. Sabem quem era? Armando Falcão! E o homem quase que foi o presidente da República, mesmo! Bacharel, deputado, líder, ministro... faltou pouco para ser presidente da República! Foi no governo de Juscelino que ele manobrou, manobrou na política... Tem nada não, nós tamo aí, o senhor na sua e eu na minha..."
Em outro momento, ao apresentar uma de suas músicas, disse: "Êh, sertão! Sertão das fultricas, sertão dos políticos enganadores, enhin deputado?" Aplaudido, com seus causos, Gonzagão arrancou risos da plateia que reconhecia sua ingenuidade política. Para alguns, Luiz Gonzaga foi um entusiasta da ditadura militar, mas, no mesmo show de 1972, o rei do baião declara: "minha cooperação é tocar!"
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