A arte institiva de J. Murilo



“Eu sempre quis pintar o primitivo, o naïf como os franceses falam”. Assim J. Murilo, renomado artista plástico mineiro, radicado há 40 anos em Vitória da Conquista, define sua obra. Natural da cidade de Cordisburgo, começou a se dedicar ao universo das artes ainda jovem, quando, acometido por um problema de saúde, teve de se aposentar da função de fiscal do banco, de carreira agrícola.

Encontrar um novo ofício que preenchesse os seus dias não foi tarefa difícil. J. Murilo recordou que em seu nome de batismo encontraria a inspiração para trilhar novos rumos. “Meu pai me colocou o nome de Murilo por causa de um pintor espanhol que ele gostava muito e eu lembrei de algumas conversas que tive com ele sobre isso e pensei: vou encarar essa coisa de pintura, eu não sei se tenho algum talento, mas o momento é esse”, conta.


Mudou-se para Poços de Caldas, em Minas Gerais, buscando contato direto com o momento de efervescência cultural que a cidade oferecia. Lá, conviveu com pintores e artistas plásticos, aprimorando, dessa forma, suas técnicas e habilidades. “Eu ficava olhando e praticava em casa, mas tinha vergonha de mostrar o que eu fazia”, revela ele, determinando o momento em que decidiu pintar e expor em galerias.

A paixão pelos cavalos serviu de temática para sua primeira obra exposta, porém, o resultado não foi o esperado. Bem-humorado, J. Murilo conta como foi essa experiência: “eu coloquei na galeria o melhor cavalo que eu tinha pintado, eu achei que aquilo ali seria minha obra-prima! Um dia chegou uma senhora, olhou o cavalo e disse que a pessoa que pintou o cavalo nunca viu um na vida, e colocou um monte de defeitos”. O episódio foi decisivo para a carreira do artista plástico que soube fazer da crítica um ponto de virada para as escolhas dos temas a serem pintados. A partir daquele dia, o primitivo ocuparia o cerne do seu pensamento.


O encontro com as obras de Guimarães Rosa parecia inevitável: ambos são conterrâneos e nasceram na mesma rua, onde as famílias mantinham laços de amizade. Mesmo receoso em transpor para as telas os escritos do grande escritor brasileiro, J. Murilo enviou seu trabalho para o I Congresso Internacional Guimarães Rosa realizado em Minas Gerais, em 2001, onde artistas de diversas partes do mundo exporiam suas obras. Quatro telas de J. Murilo ganharam os prêmios principais consagrando, assim, o trabalho do artista.


O tempo parece não passar para as mãos habilidosas do artista e para sua vontade de continuar fascinado com as cores e texturas de seus trabalhos. “Mesmo com minha idade, eu continuo fazendo a coisa, talvez um pouco mais devagar, mas com o mesmo capricho e a mesma emoção de sempre”, afirma o artista plástico. São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador são algumas das capitais brasileiras que já receberam as obras de J. Murilo.


Durante a IV edição da Mostra ArqDecor, evento de arquitetura e decoração de Vitória da Conquista, o artista foi homenageado no ambiente projetado por Ana Maria Gonçalves, Aline Lôbo e Lara Gusmão, o Bar com Varanda, com várias de suas telas, além de pequenas pinturas feitas diretamente nas paredes, em interação com as obras expostas (Texto do site da ArqDecor).
Fotos: Ailton Fernandes (2, 3 e 4) / Site ArqDecor (1 e 5)

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