Maria Bonita ganha papel principal


Ela percorreu, por oito anos, os mais inóspitos cenários e lugares do Nordeste do Brasil, em meio aos cangaceiros do grupo de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, seu marido. Aventura e ousadia que lhe renderam o posto de “primeira-dama” do cangaço nacional, e, exatos 101 anos depois de nascida, ela se tornou referência e inspiração para a cultura e comportamento de muitas mulheres nordestinas e brasileiras. Nesta quinta-feira, 8 de março, Dia Internacional da Mulher, a vida de Maria Bonita ganha as páginas do livro-reportagem A dona de Lampião, da jornalista e coordenadora de pesquisa do Jornal do Commercio, Wanessa Campos, que será lançado, às 19h, no Centro Cultural Correios, no Bairro do Recife.

Formada há 30 anos, Wanessa passou boa parte da carreira no jornalismo em editorias dedicadas ao interior do Estado. Foi aí que surgiu o primeiro contato com as informações sobre o cangaço, que lhe chamaram atenção e se transformaram em foco de pesquisa à qual ela se dedica até hoje. “Adoro interior, e acho que as grandes notícias vêm de lá. E o cangaço é um tema em que, quando você mergulha, não quer mais sair”, comenta.

A partir das pesquisas, Wanessa criou vínculos com amigos e familiares de Lampião e Maria Bonita. E foi a neta do casal, Vera Lúcia Nunes Ferreira, uma das incentivadoras da criação do livro. “Vera me falou das comemorações do centenário de Maria Bonita, no ano passado. Eu disse a ela que faria um livro, então, Vera me incentivou.” Em pouco mais de 100 páginas, a autora remonta a história de uma mulher que por muito tempo ocupou o posto de coadjuvante nos relatos históricos, contextualizando cada fase de sua vida dentro das épocas brasileira e mundial. Era 1930, quando Maria Gomes de Oliveira deixou de ser a Maria Déa – como era conhecida na vizinhança, em Glória, Sertão baiano – para mudar a sua história, largando a vida que tinha, em nome de uma paixão. “Maria Bonita foi uma mulher que rompeu com paradigmas da sociedade para seguir um homem e enfrentar o incerto”.

Embasado nos estudos e pesquisas de fragmentos de informações em jornais, revistas, fotografias, documentos da época e entrevistas com familiares, cangaceiros e ex-volantes, o livro mostra como Maria Bonita levou toques femininos e delicados à rigidez e frieza do cangaço. “Ela incentivou a higiene no bando. Quando ela entrou para grupo, eles passaram a acampar próximo aos rios, para facilitar os banhos. O bando também começou a respeitar as famílias. E os cangaceiros trouxeram sua mulheres para o grupo”, conta Wanessa”. “Mas é bom lembrar que nenhuma delas ia à luta. Elas portavam armas para avisar, com um tiro para cima, a aproximação do inimigo.”

Dona de uma beleza e vaidade sempre comentadas e lembradas nos relatos de quem a conheceu, e claramente visíveis nas fotografias, na contemporaneidade, as marcas e influências da mulher de Lampião chegam à moda, cultura regional e até à música. “Quando pequena, ela passava horas à frente do espelho. E até adulta, como a gente vê nas fotos, ela era vaidosa, fazia poses. As sandálias que ela usava, os anéis, tudo virou inspiração. Há até uma grife com o nome dela.”

O livro A mulher de Lampião conta ainda com depoimentos dos jornalistas Mário Hélio e Cícero Belmar, do diplomata Daniel Bazon e do cantor Alceu Valença, e apresentação de Marcus Accioly. A obra, publicada com apoio da Prefeitura do Recife, tem design gráfico de Andréa Aguiar, fotos de Hélia Scheppa, tratamento de Cláudio Coutinho e revisão de Laércio Lutibergue. (Do Jornal do Commercio)

Lançamento do livro A mulher de Lampião: dia 8 de março, às 19h, no Centro Cultural Correios (Recife-PE)

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