Viva Luiz: filme vai retratar a relação entre Gonzagão e Gonzaguinha

“Quem foi minha mãe? Quem é meu pai?” Era esse o tipo de questão que Gonzaguinha fazia a Luiz Gonzaga durante a turnê “Vida de viajante”, em 1981. Pai e filho tinham uma relação problemática e distante desde sempre, mas estavam excepcionalmente próximos, na época. As conversas ocorridas durante a excursão foram registradas em fitas cassete – e o material, alguns anos atrás, caiu na mão do diretor Breno Silveira, de “2 filhos de Francisco” (2005). “Quando ouvi as fitas, aquilo me emocionou. Eram perguntas muito contundentes”, explica o cineasta. “Eu senti logo que tinha uma história importante por trás disso tudo.” 

Daí renasceu a ideia do longa sobre o rei do baião, projeto que o diretor alimentava há anos. “Gonzaga – de pai para filho” começou a ser filmado em dezembro do ano passado, no simbólico Marco Zero, no Recife, durante show em homenagem a Luiz Gonzaga – reproduzindo um show que Luiz Gonzaga teria feito na cidade no início da década de 1950. Além do Recife, Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Bahia, Exu e a Serra do Araripe, em Pernambuco, estão entre as locações. A previsão é de que o filme seja lançado até outubro desse ano.

De acordo com o diretor, o filme não será uma biografia – como não é, em sua visão, “2 filhos de Francisco”: “Ali eu fiz uma história de pai e filho. Foquei principalmente no sonho daquele pai em relação ao Zezé”. O novo filme seguirá mão inversa, a visão do filho sobre pai. “Meus filmes se apoiam muito nesse drama familiar, principalmente na relação paterna”. 


Três atores diferentes interpretarão Luiz Gonzaga, a depender da época retratada. O sanfoneiro Nivaldo Expedito, o “Chambinho do Acordeon”, será o intérprete de Gonzagão na fase dos 30 aos 50 anos O papel de Gonzaguinha foi entregue ao ator gaúcho Julio Andrade. O diretor antecipa que pretende fazer um longa “épico”, para rever a vida do Gonzaga dos 17 anos de idade até a morte, em 1989, apenas dois anos antes do filho. “É um projeto muito grande. Não porque eu quero que seja assim, mas porque Gonzagão é grande demais.” Ele pondera ainda que este é “com certeza absoluta” o maior orçamento com que já trabalhou, cerca de R$ 10 milhões. 


Registrado Luiz Gonzaga do Nascimento Junior, Gonzaguinha nasceu em 1945, no Rio de Janeiro. Perdeu a mãe aos dois anos de idade e foi criado por um casal de amigos do pai, que àquela altura não era ainda o "rei do baião". A reaproximação entre os dois tardou a acontecer. “Nessa entrevista de Gonzaguinha com Gonzagão, o tom é muito emocionado, e eu entendi que o filho também não entendia o pai direito”, observa Silveira. “Apesar de o pai mandar dinheiro, ele não estava presente. No fundo, no fundo, acho que existia uma vontade do Gonzaguinha de ser aceito como músico e como filho. Acho que ele se ressentiu disso a vida inteira, da falta do reconhecimento paterno.” 

Talvez o filme traga algumas respostas para as muitas perguntas de Gonzaguinha. Sua mãe, a cantora Odaleia Guedes dos Santos, aparecerá em cena representada pela atriz Nanda Costa. O diretor recorre também a uma das frases que ouviu nas fitas e o marcou. A certa altura das conversas, Gonzagão teria dito, sobre si próprio: “Eu não sei mais eu sou – virei um tal de folclore”.

O filme conta com fotografia de Adrian Teijido (“O palhaço”), trilha sonora de Gilberto Gil e roteiro de Patrícia Andrade (“2 filhos de Francisco”).


Além de Nivaldo, Julio e Nanda, o elenco conta com José Dumont, Angelo Antonio, João Miguel, Cecília Dassi e Domingos Montagner.

O filme de Silveira vai passar pelo mesmo processo dos longas “O Bem Amado” e “Chico Xavier” e se transformará em minissérie da Rede Globo, depois de estrear no cinema.   

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